por Patricia Valente

Relacionamentos em Astrologia

Quando pensamos em relacionamentos, o primeiro modelo que nos vem à mente é o relacionamento afetivo entre duas pessoas. A época do ano em que esse tema fica mais evidente é o mês de Junho, quando comemoramos o Dia dos Namorados.

Ocorre que relacionar-se vai além do aspecto afetivo ou romântico. E a ferramenta que melhor pode nos auxiliar na compreensão das diversas e complexas dinâmicas dos relacionamentos é, sem dúvida alguma, a Astrologia. Seja pelo estudo do Mapa Natal de alguém ou pela técnica da Sinastria. Esta nada mais é do que a análise conjunta de dois ou mais mapas astrais.

Nossa primeira experiência de relacionamento é com nossa mãe, ainda dentro do ventre. Essa relação é de total envolvimento e dependência, bem como de aconchego e acolhimento. É a partir da análise da Lua – astro relacionado à maternidade por excelência – no mapa de alguém, que podemos compreender como a pessoa vivencia essa relação.

Já no início da infância, aprendemos a nos relacionar com nossos iguais: irmãos, primos, vizinhos, amigos de escola. É nessa fase que entendemos que existe um mundo além de nós mesmos, que existem outras pessoas que não somos nós. A isso chamamos alteridade. É hora de aprendermos a conviver com o outro, individualmente e em pequenos grupos.

Chegada a adolescência, tudo que se quer é diversão, encontros e nos apaixonarmos. Porém, é preciso primeiro saber quem somos, nos definir, sem parecer egóicos ou egoístas – o que é difícil! – para iniciarmos uma vida amorosa.

Tão logo conquistamos uma identidade, um ego, devemos aprender a lapidá-lo e moldá-lo para que possamos nos associar a outro alguém, a nos unir. Para estabelecermos parcerias é preciso harmonia e equilíbrio. Para nos relacionarmos afetivamente precisamos administrar e conter nosso ego, senão não abriremos espaço para o outro em nossas vidas. Estudando o astro Vênus no mapa de uma pessoa podemos compreender como essa união se dará e o que será necessário para que isso aconteça. Admitir o outro em nossas vidas é “morrer” um pouco para nosso ego. Necessariamente.

Na vida adulta nos deparamos com diversas formas de relacionamentos. No nosso trabalho, com nosso chefe, com amigos, com grupos das mais diversas naturezas, chegando ao grupo maior, que é a humanidade. Em cada uma dessas situações devemos usar nossas habilidades de relacionamento para podermos conviver. Certamente não podemos ser do jeito que queremos nas situações que queremos. Precisamos fazer concessões. Voluntariamente. Sempre. Sem o que não será possível viver em parceria, sociedade ou comunidade. Também precisamos aprender a conviver com nossos filhos. Mais um desafio.

No mapa astral, é por meio do estudo dos astros Lua e Vênus e de algumas casas astrológicas como a I, III, V, VI, VII, VIII, X e XI, seus regentes, planetas nessas casas etc., que podemos avaliar a natureza dos relacionamentos de cada um de nós. Ou seja, não basta apenas saber se “nossos signos combinam”. Precisamos saber se queremos e estamos dispostos a nos conhecer para, daí então, investirmos conscientes nos diversos relacionamentos.

Para finalizar, sugiro uma reflexão sobre o assunto a partir da belíssima música “O Quereres”, de Caetano Veloso, abaixo. Leia, ouça e veja também em um belo vídeo:

O Quereres
Caetano Veloso

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão

Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês

Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato eu sou o espírito
e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói
e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução
e onde queres bandido eu sou o herói

Eu queria querer-te e amar o amor
construirmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação
tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou
não te quero e não queres como és

Onde queres comício, flipper vídeo
e onde queres romance, rock’n’roll
Onde queres a lua eu sou o sol
onde a pura natura, o inseticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz
Onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
e onde queres coqueiro eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer
que há e do que não há em mim.